Durante a Era Collor um ritmo musical tomou o Brasil de assalto, ritmo esse saído das entranhas do país: a música sertaneja. Os cantores eram presença obrigatória em qualquer programa de auditório, rádio popular e ainda se davam ao luxo de ter programas de televisão inspirados no seu estilo de vida (que foi o caso de Leandro & Leonardo).
As músicas falavam de amor, da vida do homem do interior, com seu sotaque, seus costumes e mostrou ao Brasil que existia uma cultura de massa fortíssima fora do eixo Rio - São Paulo e com isso nos acostumamos a nomes como Chitãozinho & Xororó, Milionário & José Rico, Pena Branca & Xavantinho, nomes consagrados como Tonico & Tinoco entre outros.
Mas essa aceitação da população de um modo geral e dos formadores de opinião de um modo específico nos grandes centros urbanos só foi possível graças a alguns escritores visionários que décadas antes revolucionaram a literatura (e a cultura) mostrando ao país um tipo de brasileiro que era pouco conhecido, nomes como Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego e João Guimarães Rosa não só pintou com cores realistas fortes o interior do Brasil como mostrou sem idealismos o modo real que eles falavam, sem floreios e erudições lingüísticas pouco comuns a essas pessoas.
Com Graciliano Ramos, por exemplo, tivemos a chance de conhecer a vida do homem da caatinga, do sertanejo que enfrenta a seca, a fome e que não se cansa de lutar pela vida, como é o caso do romance Vidas Secas. Ele também trouxe a realidade dos grandes latifúndios de Alagoas, sua terra natal no livro São Bernardo. Já Jorge Amado nos trouxe o calor e a sensualidade do recôncavo baiano, mostrando o cotidiano das classes mais pobres dessa região em obras como Cacau e Jubiabá e da capital baiana como Capitães de Areia e Dona Flor e Seus Dois Maridos.
Já José Lins retratou com extrema maestria os engenhos de cana de açúcar de sua infância no sertão da Paraíba que teve seu declínio já no início do século XX, obras como Menino de Engenho, que retrata a sua infância e sua obra máxima, Fogo Morto, mostram as dores e costumes de um canto tão escondido ainda hoje no Brasil.
E a obra prima que mostrou o sertanejo como ele realmente é, foi Grande de Sertão: Veredas. Escrito por João Guimarães Rosa, o romance não só trata dos costumes da região do interior mineiro e norte da Bahia como reproduz com fidelidade o falar do homem do sertão. A leitura do livro é quase musical com palavras que ainda hoje não estão presentes em nossos dicionários e narra a busca interior tão comum ao homem não só do campo como da cidade. E vale ressalta que esse livro é considerado a maior obra brasileira do século XX e está entre as maiores do mundo.
Todos esses livros abriram a mente das pessoas para as diferenças que existem nesse país continental e abriu as portas do sul maravilha para nomes que fizeram grande sucesso mostrando suas raízes e costumes e que não eram necessariamente sertanejos, como foi o caso de artistas como Luís Gonzaga, Dominguinhos, Zé Ramalho, Alceu Valença, Mestre Ambrósio, Cordel do Fogo Encantado, mas aí... bem, já é outra história.
Um forte abraço e até a próxima.