domingo, 27 de abril de 2008

SEUS DEZ ANOS...




Te vi nascer.
Pequena, frágil.
Te ninei em meu colo,
Rolei com você no chão.
Ouvi seu choro,
Ri com seu sorriso.
Dancei ao seu lado,
Te deixei fazer de mim gato e sapato.
Hoje você faz dez anos.
Logo se tornará moça,
Fará quinze vinte,
Muitos anos mais.
Porém, você será sempre
Minha menininha,
Ainda verei em seu rosto
Os mesmos olhinhos
De quando lhe vi pela primeira vez
E ainda irei rolar no chão,
Ainda irei lhe socorrer quando ouvir o seu choro
E ainda sorrirei com suas gargalhadas
Como sempre fiz
Em todos esses dez anos.


(Uma homenagem a essa menina linda que entrou em minha vida e sempre faz de mim gato e sapato, minha sobrinha linda Ingrid.)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

ESTÃO TODOS SURDOS!

O que está acontecendo comigo?
Eu falo, ninguém me compreende.
Eu me expresso, falo, mas não sou ouvido.
É deprimente,
Me deixa descontente,
A situação, insistente.
O que fazer para me escutarem?
Como fazer para aceitarem, para
concordarem?
Me sinto numa torre de pedra,
Onde minha voz não passa pelas paredes,
ou no fim da terra,
num vale de pastagens verdes,
onde berro e só ouço o eco
da minha própria voz.
Uma horrível sensação percorre o meu corpo
Um sentimento de solidão,
Como um navio sem porto,
Ou um rei sem nação.
Por Deus, chegue ao fim esse tormento,
Não vou agüentar mais tanto sofrimento,
Não quero cair em esquecimento.
Meu coração bate veloz,
Eu preciso ouvir alguma voz,
Nem que seja a voz de Deus,
Mesmo que seja um último adeus.

A VOZ DO SERTÃO

Durante a Era Collor um ritmo musical tomou o Brasil de assalto, ritmo esse saído das entranhas do país: a música sertaneja. Os cantores eram presença obrigatória em qualquer programa de auditório, rádio popular e ainda se davam ao luxo de ter programas de televisão inspirados no seu estilo de vida (que foi o caso de Leandro & Leonardo).
As músicas falavam de amor, da vida do homem do interior, com seu sotaque, seus costumes e mostrou ao Brasil que existia uma cultura de massa fortíssima fora do eixo Rio - São Paulo e com isso nos acostumamos a nomes como Chitãozinho & Xororó, Milionário & José Rico, Pena Branca & Xavantinho, nomes consagrados como Tonico & Tinoco entre outros.
Mas essa aceitação da população de um modo geral e dos formadores de opinião de um modo específico nos grandes centros urbanos só foi possível graças a alguns escritores visionários que décadas antes revolucionaram a literatura (e a cultura) mostrando ao país um tipo de brasileiro que era pouco conhecido, nomes como Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego e João Guimarães Rosa não só pintou com cores realistas fortes o interior do Brasil como mostrou sem idealismos o modo real que eles falavam, sem floreios e erudições lingüísticas pouco comuns a essas pessoas.
Com Graciliano Ramos, por exemplo, tivemos a chance de conhecer a vida do homem da caatinga, do sertanejo que enfrenta a seca, a fome e que não se cansa de lutar pela vida, como é o caso do romance Vidas Secas. Ele também trouxe a realidade dos grandes latifúndios de Alagoas, sua terra natal no livro São Bernardo. Já Jorge Amado nos trouxe o calor e a sensualidade do recôncavo baiano, mostrando o cotidiano das classes mais pobres dessa região em obras como Cacau e Jubiabá e da capital baiana como Capitães de Areia e Dona Flor e Seus Dois Maridos.
Já José Lins retratou com extrema maestria os engenhos de cana de açúcar de sua infância no sertão da Paraíba que teve seu declínio já no início do século XX, obras como Menino de Engenho, que retrata a sua infância e sua obra máxima, Fogo Morto, mostram as dores e costumes de um canto tão escondido ainda hoje no Brasil.
E a obra prima que mostrou o sertanejo como ele realmente é, foi Grande de Sertão: Veredas. Escrito por João Guimarães Rosa, o romance não só trata dos costumes da região do interior mineiro e norte da Bahia como reproduz com fidelidade o falar do homem do sertão. A leitura do livro é quase musical com palavras que ainda hoje não estão presentes em nossos dicionários e narra a busca interior tão comum ao homem não só do campo como da cidade. E vale ressalta que esse livro é considerado a maior obra brasileira do século XX e está entre as maiores do mundo.
Todos esses livros abriram a mente das pessoas para as diferenças que existem nesse país continental e abriu as portas do sul maravilha para nomes que fizeram grande sucesso mostrando suas raízes e costumes e que não eram necessariamente sertanejos, como foi o caso de artistas como Luís Gonzaga, Dominguinhos, Zé Ramalho, Alceu Valença, Mestre Ambrósio, Cordel do Fogo Encantado, mas aí... bem, já é outra história.

Um forte abraço e até a próxima.
(Texto anteriormente publicado no site www.vistolivre.com, em 07/07/2007.)