segunda-feira, 26 de março de 2007

O VÔO DA BORBOLETA (PARTE FINAL)

Viu-se pela primeira vez, depois da transformação. Não era mais a mesma. Estava mais bonita, não, estava linda. Tinha o rosto triangular com maçãs acentuadas e um sorriso de capa de revista. Continuava magra, no entanto seus seios aumentaram, pareciam os de modelos da Playboy, grandes, rijos e deslumbrantes. Como tinha a cintura fina e os quadris e os glúteos foram alargados, o resultado foi surpreendente. Mas não reparou na mudança mais importante, não reparou nos seus olhos, na sua felicidade não reparou que o brilho singular dos seus olhos havia desaparecido.
Agora tinha tudo que queria. Era desejada, os homens a admiravam, mulheres a invejavam. Tinha os homens que queria aos seus pés, não precisava se esconder, não precisava odiar sua imagem no espelho. Estava feliz. Entretanto seus amigos e familiares notaram não só a mudança do seu corpo, mas também a do seu olhar, tinha perdido seu brilho, foi embora a sua alma. Todos se afastaram, a deixaram. Ela foi ficando cada vez mais só e odiando cada vez mais o resultado de sua transformação. O que era para ser um sonho realizado se tornou o motivo do se sofrimento. Bárbara não conseguia entender como as pessoas repudiavam tanto sua felicidade, não entendia por que quando era feia e sem graça todos gostavam dela e agora que era o que sempre sonhou todos que amava lhe viraram as costas.
Ela estava infeliz naquela manhã. Sem amigos, sem familiares, até seus amores superficiais não lhe alegravam mais. Tinha perdido tudo. Olhou-se no espelho mais uma vez, não sabia quem a encarava, não conhecia essa estranha no espelho, não tinha mais o brilho no olhar. Sem amigos, já não tinha mais alma. Sem nada a perder tentou o último vôo da borboleta. Atirou-se da ponte, realizou seu último sonho: se fosse para morrer, que morresse linda.

segunda-feira, 19 de março de 2007

O VÔO DA BORBOLETA (PARTE I)

Bárbara se olhou no espelho mais uma vez. Não que ela fosse vaidosa ao extremo, na verdade não gostava de se ver, não gostava de sua aparência, principalmente pela manhã quando ia trabalhar, achava pouco prático ficar muito tempo se arrumando e se maquiando, tinha hora para chegar e esse ritual da vaidade lhe tirava um tempo precioso, mas nesse dia ela se olhou no espelho mais de uma vez.
Ela nunca se achou bonita, todos diziam que era simpática e de uma beleza interior exuberante. Seu cabelo era simples, castanho, fios retos que se partiam no meio da cabeça e desciam como uma cascata até o meio das costas, todavia deixava sempre preso, como dizia, dava menos trabalho. Tinha o rosto estreito, olhos pequenos e inexpressivos e um sorriso de dentes brancos como marfim e igual a tantos outros, entretanto ela tinha algo único, sua alma, sua boa alma, que transparecia em seu sorriso e no seu olhar.
Nunca teve um corpo escultural, seus seios eram como os de uma menina nos primeiros passos da maturidade, seus quadris eram estreitos, era magra e apesar de despertar uma certa inveja em outras moças de sua idade (comia de tudo e não engordava) se achava insípida.
Era considerada pelos amigos e familiares uma ótima pessoa, de bom coração, carinhosa e que logo encontraria alguém que enxergasse sua beleza interior. Mas ela não acreditava nisso, ela sabia que os homens só vêem o que está ao alcance dos olhos, não observam a alma das mulheres. Porém, nessa manhã, se viu refletida mais uma vez, como se estivesse dando adeus a si mesma.
Estava feliz nessa manhã, feliz como nunca estivera antes. Dentro de poucos dias ia realizar seu maior sonho, um sonho que veio de forma inesperada (mas não são esses os melhores, como nos contos de fadas?), por isso a despedida ao ver sua imagem no espelho. Nesse momento ela se deu conta de que estava dizendo adeus, adeus a Bárbara insignificante, a Bárbara que não despertava olhares e paixões, a Bárbara que passava invisível no meio da multidão. Dava adeus a essa Bárbara e dava, ao mesmo tempo, as boas vindas a uma nova mulher, uma mulher que viveria grandes amores, que sairia desse corpo sem graça como uma linda borboleta que desabrocha de uma horrenda lagarta.
Tudo aconteceu de repente, ao reencontrar uma grande amiga, descobriu que ela trabalhava na casa de um famoso cirurgião plástico. Um dia, ao visitá-la, foi vista por ele, que imediatamente se encantou por ela. Quando voltou para casa não se agüentava de felicidade, nunca tinha sido notada e quando isso aconteceu foi pelo homem que mudaria sua vida. Não, ela não o via como um príncipe encantado, na verdade ele prometeu que faria todas as plásticas que ela quisesse sem cobrar, dizia que viu um brilho intenso em seus olhos, como o brilho da alma e seria um prazer colocar para fora esse brilho, ele disse que seria sua obra prima, esculpiria seu corpo como os escultores esculpiam o mármore. Poderia morrer naquele momento que morreria feliz. Não, morreria depois do sonho realizado, se tivesse que morrer, que morresse linda.
E chegou o grande dia, o dia que sua vida mudaria para sempre. Não fazia grandes planos, apenas saboreava essa felicidade que transbordava do seu corpo em pequenos goles e que eram doce como o mais saboroso vinho.
Despertou na manhã seguinte com muitas dores, não se lembrava de muita coisa, só de um entra e sai de corredores brancos e gelados e de uma sala cheia de aparelhos e mais nada. Ao acordar se sentia inchada, cheia de dores pelo corpo e parecendo uma múmia daqueles antigos filmes de horror.
Teve rápida recuperação, logo tiraria os curativos e teria alta. O médico disse que não iria se reconhecer. Ele colocou próteses de silicone nos seios e quadris, aumentou os glúteos, com o auxílio de um amigo que era dentista levantou as gengivas e serrou os dentes (estão como nos comerciais de creme dental) e pôs silicone nas maçãs do rosto. Logo sairia do casulo e voaria alto como uma linda borboleta...
(Continua na próxima semana.)

terça-feira, 13 de março de 2007

DIA DE ANIVERSÁRIO

Não reconheço o rosto no espelho,
Mas é meu.
Essas rugas nos seus olhos;
Ele envelheceu.
Os anos passaram, os cabelos pratearam,
A chama, o vigor, o furor apagaram.
Meus amigos e pais já se foram,
Meus amores se perderam
Em algum verão que passou.
Não lembro mais o dia que nasci,
Os velhos aniversários, me esqueci.
Tudo tem se passado, não há mais futuro,
Só passado.
A estrada está chegando ao fim.
Empoeirada, velha, esquecida e abandonada.
O livro da minha vida já chegou ao apêndice.
É o fim, o réquiem sem happy end.
Espero a sua chegada impaciente,
Ciente do seu abraço, do frio do afago,
Oh, minha futura companheira,
Que vai me levar no encontro de amigos e amantes.
Essa canção não soa como antes,
Não combina com a minha partida.
“...muitas felicidades, muitos anos de vida...”
(preciso apagar a vela)
Pode me levar, oh, minha querida,
Pode me levar pra sua terra...

sexta-feira, 9 de março de 2007

MANCHETE DE JORNAL

Marta lia o jornal todas as manhãs em sua cozinha, ficava muito assustada com a violência e as tragédias que eram noticiadas, mas achava que o tempo passava mais rápido e tornava a espera por Carlos, seu marido, que era caminhoneiro e ficava muito tempo viajando, mais curta.
Numa manhã ela começou a chorar e ficar inquieta, vira no jornal um acidente nos limites da cidade que aconteceu na noite anterior envolvendo um ônibus e um caminhão. Sua apreensão era devido a foto no jornal, o caminhão era igual ao do seu esposo e o nome do caminhoneiro morto era Carlos.
Ela estava angustiada porque seu marido tinha que chegar pela manhã bem cedo e aquela hora, nove da manhã, ele já devia estar em casa. Imaginava coisas horríveis: será que era seu marido o acidentado? E se era, por que não avisavam à família? Mas se não fosse, por que não dava notícia? As horas foram passando e seu desespero aumentava.
Quando se preparava para buscar notícias, reconheceu um som que não a confundia, o que alegrou seu coração, era o caminhão de Carlos que estava chegando. Depois que entrou e descansou ele contou que havia chegado mais tarde, pois o caminhão quebrou no meio da estrada, que realmente tinha visto o acidente e não havia ligado para não perder mais tempo.
Hoje Marta não lê mais jornais, para passar o tempo joga palavras cruzadas.

quinta-feira, 8 de março de 2007

O Início


Tudo tem seu começo. E aqui é onde tudo começa a se concretizar. Um sonho possível graças as maravilhas da tecnologia.

Todo escritor (ou pseudo-escritor) é vaidoso, gosta de se mostrar, mas não de maneira concreta, presente fisicamente, ele se mostra sim, através de suas idéias, sonhos transpostos para o papel. E comigo não é diferente. Também sou vaidoso. Não que eu ache que o que escrevo é o que há de melhor nas letras nacionais(quem sou eu!!),na verdade minha vaidade é poder me mostrar como sou através de meus contos, poesias e artigos que expressam claramente como sou, do que gosto, do que penso e esse exibicionismo de minhas idéias não está ligado a vaidade tola que temos hoje, aquela que reje quem é mais sexy, mais badalado.

Pois bem, tudo isso é para dizer que está aberto um espaço para dialogarmos, eu e você, possível leitor. A cada semana publicarei um texto diferente, nada segmentado, pode ser um conto ou um artigo, enfim, meus pensamentos, e pensamentos não são lineares e às vezes nem são coerentes.Comentem, digam o que acham, só com essa troca posoderei saber se estou no caminho certo rumo ao universo literário.

Esse é o início de um sonho. Um sonho possível de poder me expressar livremente e esse canal é uma oportunidade de saber em tempo real o que vocês (possíveis leitores) acham. Então espero vocês aqui a cada semana lendo, participando, comentando e tenho certeza que será bem legal.

Fiquem com Deus e até a próxima.