quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

SERES NOTURNOS

Os seres noturnos vagam
De bar em bar,
Seu habitat natural.
Compartilham copos,
Bagulhos,
Doideira,
Desilusões.
Eles andam em bandos,
Não como as andorinhas que migram
Para o verão,
Andam sem rumo,
Atrás da próxima dose,
Do próximo copo,
Do próximo corpo
Largado no chão.

sábado, 17 de janeiro de 2009

ECUMÊNICO

Vai à missa pela manhã,
Corre ao mercado
E vai pra casa
Pra ver
O programa do pastor famoso.
Arruma o Buda ao lado de
São Jorge.
À noite vai ao tomar passe,
Pra purificar.
Sexta tem festa no terreiro,
Pede bênçãos ao orixá,
Proteção,
Que ver os búzios.
E domingo volta à igreja,
Ver a missa,
Ouvir sermão,
Comungar
E pedir perdão.

MARIA CLARA II


E, na noite de quinze de janeiro,

Um clarão iluminou o céu.

Nasceu Maria Clara.

Clara, linda, forte.

Luminosa, frágil

E poderosa.

Uniu desafetos,

Ratificou um amor,

E veio ao mundo

Para nos alegrar.

Seja bem-vinda,

Maria Clara,

Esse mundo lhe aguarda

E lhe recebe Feliz e radioso,

Como a luz de seu lindo sorrisinho.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

TÍMIDO

Olho para ti de soslaio.
Faço-me notar.
Cortejo-te.
Vislumbro sua beleza.
Radiosa que és, intimida-me.
Não desisto.
Junto coragem,
Aproximo-me.
Falo de algo banal.
Talvez o tempo,
Talvez a lua.
Tudo irrelevante.
O único assunto que me interessa
É você.
Sorris para mim
E com isso vibro,
Como um ganhador da loteria.
Não sei como continuar a conversa.
Silêncio.
Volto para onde estava.
Contento-me em ver-te de longe.
Admirar-te como a uma musa.
E saber que um dia sorriste para mim.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

PIAUÍ-RIO-PIAUÍ

Nasci piauiense.
Cresci carioca.
Piauiense de pai e mãe.
Carioca de amigos, esposa
e novos parentes.
Cheguei menino.
Cresci moleque,
suburbano como tantos outros.
Renasci carioca.
Feito, paiuiense.
Não sou de lá,
Nem de cá,
Mas sou dos dois
E carrego ambos,
Juntos,
No mesmo lugar.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

SEM ASSUNTO

O sentimento é o motor do poeta.
Meus versos são quelóides
Do que sinto.
Expõem minha dor,
Minha alegria.
Minhas poesias são tatuagens.
Exibem o que há dentro de mim.
Palavras.
Marcas da alma.
Grafadas na carne.

FIM DE ANO

Noite de quarta.
Antevéspera de Ano Novo.
Meu apartamento está vazio.
Da janela, vejo o caminhão de lixo
Recolhendo meus dejetos do ano que termina.
Um carro passa.
Não há tráfego
Nesse momento.
Quero dormir.
Não consigo.
Quero escrever.
Me falta assunto.
Não quero pensar.
Me falta coragem.
Grito.
Para quem?
A vizinha viajou,
O comércio agora dorme,
Ninguém vai ouvir
Meu pedido de socorro.
Enlouqueço com o não-tic-tac.
O tempo agora é digital.
Não há ponteiros.
Não há relógio.
Só a noite.

ÓCIO

Preciso de gente.
Estar no mundo
Cercado de vidas, pessoas,
Para ver, pensar, sentir.
Preciso viver a vida.
Me nutrir de material
Humano.
Pulsar na artéria da rua
E me embriagar com a multidão
E suas vidas, histórias,
Sentimentos.
E preciso me manter ocupado.
Indo de lá para cá,
Vivendo num fluxo contínuo que não pára.
Preciso do barulho da rua.
Das vozes que me falam
Sem me dizerem nada.
Preciso do ócio.
E também do silêncio,
Do isolamento.
Para pensar,
Refletir,
Produzir.
Destilar a embriaguez de vida
Para entorpecer as vidas
E embriagar as almas.