segunda-feira, 30 de abril de 2007

O GUARDANAPO (PARTE II)

(Continuação...)
O ônibus começou sua jornada rumo à Vila Valqueire. Alberto sentia seus olhos pesados, o balanço da condução o levou a um estado de sonolência devido ao cansaço do corpo e ao álcool em seu sangue. Ele começou a cochilar, porém não descansava. Não tinha alcançado ainda o merecido descanso de um andarilho urbano. Ele fechava e abria os olhos. Parecia que eram poucos segundos, mas cada vez que abria e olhava a janela via-se mais e mais distante do Centro. Quando já havia passado da Celso Lisboa, olhou para frente do ônibus, estava sonolento, tentava manter os olhos abertos, porém eles não lhe obedeciam, e foi num desses instantes, nesses segundos que os manteve abertos que viu um vulto. Um vulto já conhecido que vinha lhe perseguindo desde cedo. Como não conseguia ficar acordado e estava ainda muito embriagado achou que fosse alucinação ou sonho, voltou a fechar os olhos, mas ficou inquieto, tentou recobrar a lucidez, tentou abrir os olhos e quando conseguiu viu que era aquele homem misterioso que o seguia. Não era possível, Alberto não podia acreditar. Ele estava lá sentado na sua frente no mesmo ônibus, mas onde ele o pegou? E para onde ele ia? O que queria com o rapaz? Eram muitas perguntas que o jovem tentava responder. Ele estava confuso. Não pensava direito. Estava com medo. Já começava a ficar assustado e não tinha dúvidas de que realmente estava sendo seguido e não sonhando. Num impulso, forçando-se ao máximo para se recompor, se manter sóbrio e entender o que estava acontecendo, Alberto levantou-se, foi até o banco, mas o ônibus ia muito rápido e numa curva ele se desequilibrou, caiu num banco vazio. Nesse instante o homem misterioso, levantou, tocou o sinal e desceu no primeiro ponto da Dias da Cruz. Alberto tentou ver seu rosto na claridade do ônibus, só que nesse momento o motorista desligou as luzes e reacendeu-as no mesmo momento, mas foi tempo suficiente para o homem descer sem que seu rosto fosse visto. Alberto ainda olhou pela janela, porém o homem já havia sumido na escuridão da noite.
Ele estava cada vez mais confuso, mais assustado. Não se lembrava do que havia feito, não sabia se o sangue na suas mãos era algum ferimento seu ou não, a embriaguez custava a passar, e ele já estava achando que tinha muito mais naqueles drinks do que apenas álcool, além disso, não conseguia entender por que estava sendo seguido, nem por quem.
Como o jovem andarilho não conseguia achar resposta alguma para suas indagações, resolveu então descansar enquanto não chegava em casa. Estava na metade do caminho e tinha muito tempo ainda para cochilar. Novamente fechou os olhos. Tentou relaxar. No decorrer do percurso sua sobriedade voltava lentamente, e junto dela vinham flashs da noitada. Tudo muito desconexo, muito confuso. Hora vinha a imagem de uma mulher, porém seu rosto era nebuloso. Então essa imagem sumia e era substituída por uma discussão com um homem desconhecido. Acontecia uma briga. Ouvia gritos. Correria. Tudo muito rápido e fora de ordem. Tudo muito confuso. Num outro momento ele se via no balcão do bar rindo, tomando um drink. Alberto não entendia o que eram aquelas imagens, o que elas significavam. Ele ficou atordoado com tudo aquilo e resolveu se manter mais acordado. O vento que entrava pela janela era frio e revigorante. Era uma ótima maneira de curar o seu porre. E também estava mais perto de casa e se dormisse novamente poderia passar do ponto. Com certeza isso iria coroar ainda mais uma noite tão perturbadora.
Alberto se deu conta de que quanto mais se aproximava do seu destino, mais ia recuperando a lucidez, e com isso as coisas começavam a ficar claras. A primeira coisa que lhe ocorreu foi que o nome e o telefone no papel em seu bolso eram da mulher misteriosa que vez por outra aparecia em seu pensamento. De alguma forma ela estava ligada a confusão, ao homem com quem discutira e quem sabe com o homem misterioso que vinha lhe seguindo. Inclusive quanto a isso, pelo menos, ele havia descido muito longe e não estava mais atrás dele e o rapaz começava a pensar que esse homem era só mais um andarilho da noite carioca e que ele é que estava muito bêbado e por isso achou que estava sendo seguido. Riu de si mesmo, de sua paranóia e se achou ridículo em pensar que um homem soturno havia de segui-lo noite afora para o que quer que fosse.
(Continua na Próxima semana.)

segunda-feira, 23 de abril de 2007

O GUARDANAPO (PARTE I)

Era uma noite chuvosa. Estava quente e por mais que chovesse a temperatura não baixava. Estava no início do ano ainda, em meados de janeiro. Já passava das duas da manhã. Alberto tentava voltar para casa. Ele tinha saído de uma festa num bar do centro do Rio, estava embriagado, molhado, confuso. Não sabia o que faria para voltar para Madureira, onde morava. Tinha perdido a carona. Tinha perdido o senso de direção. Tinha perdido a compostura. E tinha perdido sua dignidade. Não passava de um trapo ensopado e bêbado nas ruas escuras do Centro.
Então mesmo não sabendo para onde ia começou a andar. Meio sem rumo no começo, porém, não se sabe ao certo se por instinto ou uma melhora do seu estado, começou a caminhar em direção a Praça XV. Apenas andava. Não conseguia pensar. Não se lembrava do que tinha feito. Não queria saber quem era. Só queria andar, chegar em casa, tomar uma ducha fria e dormir. Procurou em seus bolsos o maço de cigarros que comprara ao chegar ao bar. Tinha perdido o maço, só restava um único cigarro amassado e úmido, como todo o seu ser. Tentou acender, mas ventava muito, sua mão tremia, ele caia pelo canto da boca sem nenhuma firmeza, então Alberto parou embaixo de uma marquise, se concentrou e conseguiu acendê-lo. Reparou que suas mãos estavam sujas de sangue, só não conseguia lembrar se o sangue era seu ou de outra pessoa. Não deu muita importância ao fato. Quando guardou o isqueiro no bolso da calça achou um guardanapo amassado. Tentou ler, entretanto havia pouca luz nas ruas, não tinha nenhum brilho de luar e seus olhos não obedeciam ao comando de seu cérebro. Quando conseguiu ver o que estava escrito, apenas viu um nome e um número de telefone. Não sabia de quem era. Não se lembrava de muita coisa. Eram somente flashs sem nexo. Rostos se misturavam na sua cabeça. Sentiu o gosto da tequila nos lábios de uma mulher que não conhecia. Ouvia conversas sem sentido. Gritos. Tentou organizar suas idéias, mas logo desistiu, só queria andar e voltar logo para casa.
Ao virar a esquina da Rua do Ouvidor com Rio Branco, começou a ouvir passos atrás de si. Alberto olhou para trás para ver quem vinha lhe seguindo. Só viu um vulto. Era alto, corpulento, parecia ter as mãos no bolso. Não dava para ver seu rosto porque o vulto usava um desses chapéus antigos e usava uma capa de chuva dando a sua figura uma aparência de gangster, desses filmes antigos sobre a máfia. Ele tentou acelerar o passo, porém seus pés não lhe obedeciam. Ainda estava muito embriagado, não conseguia decidir o que fazer. Ele estava muito tonto para pensar em algo. Caminhou então em direção ao Arco do Teles, com a pouca lucidez que tinha, imaginou que lá pelo menos poderia saber se estava mesmo sendo seguido e quem era. Quando parou em frente ao Arco o vulto passou ao seu lado, Alberto tentou ver seu rosto, entretanto por ter os olhos muito embaçados devido a embriaguez, não conseguiu identificá-lo.
Ele aproveitou essa pausa para respirar um pouco de ar fresco. Tentou se recompor. Já se equilibrava melhor e aos poucos foi recuperando a sobriedade. Continuou andando rumo ao mergulhão. Estava cansado e ainda não se lembrava do que havia ocorrido no bar. Não sabia de quem eram os lábios embebidos em álcool e não sabia se realmente estava sendo seguido ou isso tudo era fruto de sua imaginação. A chuva havia passado, o que o animou, pelo menos poderia secar suas roupas. Poderia se aquecer ao caminhar. Se reanimar. Poderia fumar um outro cigarro, se encontrasse algum pelo caminho, já que o seu se apagou com a chuva e ficou encharcado. Alberto sempre gostava de fumar quando estava com frio. Ajudava a esquentar o corpo por dentro e nessa noite ele queria aquecer o seu corpo e sua memória.
O rapaz nem percebeu que já havia descido a rampa do mergulhão. Apenas andava de forma mecânica. Quando se deu conta seus olhos haviam sido bombardeados pela forte luz fluorescente do ponto de ônibus. Não pensava em nada. Olhou em volta.O ponto estava vazio. Nenhum ônibus. Mas o que ele viu o deixou abalado. Lá estava ele. De costas para a rampa. O mesmo homem. A mesma capa de chuva. Estava imóvel. Quando Alberto se aproximou o homem misterioso seguiu rápido para as escadas que davam acesso ao terminal das barcas e desapareceu na escuridão. Nesse mesmo instante seu ônibus chegou. Por um instante o rapaz hesitou. Não sabia se ia atrás do seu perseguidor ou se pegava sua condução. Preferiu o ônibus. Ele entrou, se dirigiu ao fundo do carro, se encolheu num banco e procurou relaxar. Alberto queria apenas descansar. Não queria pensar na sua embriaguez cada vez mais fraca. Não queria pensar no que poderia ter feito naquela noite. Não queria saber de homens misteriosos. Queria apenas descansar. Somente dormir. Queria que aquela noite acabasse. Sentia-se num pesadelo, mas aqueles que não conseguimos acordar por mais que tentemos, mesmo sabendo que é apenas um sonho. E Alberto queria acordar deste sonho.
(Continua na próxima semana.)

terça-feira, 17 de abril de 2007

FOLHA EM BRANCO

Olho para a folha em branco. Nada de novo me vem ao pensamento, ele está vazio como a garrafa de gim que me serviu de consolo há meia hora atrás. Procuro inspiração na tv, mas são três horas da tarde e não há nada de inspirador nesses programas de auto-ajuda com mães desesperadas e esposas histéricas. Me levanto um pouco e vou até a janela. Olho para a rua. Daqui de cima as pessoas são apenas pontos negros num passar ligeiro por entre carros estacionados na calçada e os que passam pela rua em alta velocidade. Acendo um cigarro e fico pensando no que vai acontecer se não entregar um novo livro no prazo estipulado. Livro por encomenda. Arte por encomenda. Algo como esse cigarro que se acaba entre meus dedos, que não passa de um produto feito em escala industrial. Assim é minha arte, arte de consumo.
Diziam que eu era o mais promissor da minha geração, o mais criativo. Ora criativo! O que diriam agora os intelectuais que enalteceram minha criatividade? A criatividade esvaziou como a garrafa de gim. E não se pode comprá-la numa loja de conveniência dum posto de gasolina qualquer. O cigarro acaba e a tarde vai também se acabando num ritmo lento. Não dá para saber ao certo se a natureza caminha mais devagar esperando minha inspiração, essa mais lenta, ou se quer me mostrar todo o seu trajeto a cada passo, a cada segundo, mostrar que por mais que eu espere nada mais vai vir.
Procuro desviar o olhar do computador. Não consigo encarar essa folha em branco. Folha virtual, mas uma folha. Eu não agüento olhar em seus olhos e ouvi-la dizer “você é uma farsa, um blefe, não existe talento nessa cabeça, a fonte se esgotou como uma garrafa de gim, você é um fracasso”. Não, não agüento essa acusação. Pego as chaves de casa. Não sei por que, apenas pego. Resolvo ir para a rua, respirar, olhar as pessoas, tentar ler em seus olhares suas histórias, seus segredos, quem sabe encontrar a minha história, para preencher a folha em branco acusadora do meu desespero.
Saio do prédio sem saber ao certo para onde ir. Tento me distrair, não pensar muito na folha em branco, que me assombra com seu vazio acusador. Olho para o auto, para a janela do meu apartamento. É um movimento mecânico, sem um motivo aparente, apenas penso, será que vou conseguir voltar a escrever? Será que vou preencher aquela folha em branco e vencê-la? Vou corresponder às expectativas dos que pensam que sou um escritor criativo? O mais promissor da minha geração? Caminho sem um rumo definido, apenas caminho. Olho os rostos das pessoas, seus semblantes carregados, seus olhares tensos. Tento tirar algo dessas pessoas, suas almas, seus temores, alegrias, algo que possa me servir como arma para vencer aquela folha em branco em meu apartamento que agora está vazia como a garrafa de gim que me consolou horas atrás e que não passa de um produto como os meus livros, minha arte de consumo feita em escala artesanal para uma editora de escala industrial.
Chego a uma praça que não conhecia e que fica a poucos metros do meu prédio. Onde ela estava antes de hoje? Onde eu estava que não a conhecia. Vejo crianças brincando, suas mães e babás próximas para evitar qualquer acidente mais grave. Brincadeiras vigiadas, controladas, pobres crianças, nem imaginam que nunca vão sair desse controle. Hoje das mães e babás, amanhã da sociedade. Vejo velhos conversando, lembrando das glórias do passado. É tudo que lhes restam, seu passado. Ficam sentados esperando um fim que chega lento como a tarde que se esvai como a fumaça do meu cigarro que novamente acendi. Olho para tudo isso tentando achar algo para saciar a voracidade da folha em branco no meu computador.
Vejo um banco próximo a dois senhores de cabelos de prata. Fico olhando a praça sem me fixar em nenhum ponto. Tento ouvir suas histórias, suas conquistas amorosas que não passam de lembranças amargas de uma juventude que se foi lentamente como a fumaça do cigarro e a garrafa de gim. Bebo suas palavras, cada frase, cada memória. Bebo para saciar a sede da minha cabeça, que está vazia, cheia apenas do gim e do cigarro que se consome entre meus dedos. Fico meia hora. Estou impaciente, vou em direção a loja de conveniência na esquina do meu prédio comprar outra garrafa de gim. Não posso comprar inspiração, que para os outros eu tenho muita, mas no momento não consigo encontrá-la, então comprarei outra garrafa de gim para me ajudar a enfrentar a folha em branco no meu apartamento.
Volto para casa e olho a folha em branco na minha frente. Bebo um gole da garrafa de gim. Penso nas babás, nas mães, nas crianças vigiadas, nos velhos e suas palavras mofadas. Começo a escrever qualquer coisa para vencer a folha em branco, em branco como minha imaginação. Surge uma frase, outra. Começo a derrotá-la. Não sei o que vai acontecer, não sei o que estou escrevendo. Só escrevo. Palavras. Há muito tempo já usadas pelos velhos, mães e crianças vigiadas. Como o texto vai acabar, não sei, não importa. O que apenas importa é que não terei mais a minha frente uma folha em branco. Que começa a ficar cheia, diferente da garrafa de gim.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

ESTRADA DO SOL


Sigo pela estrada do sol,
Sem curvas
Num caminho reto
Rumo às lembranças turvas
Do que acho certo,
Do que acho concreto.
Não levo bagagens,
Somente imagens,
Imagens de minhas vivências,
E minhas crises de consciências.
Essa estrada é reta
Como as metas
De vida,
Uma vida partida,
Para o nada
No horizonte.
Sigo essa estrada,
Vejo ao longe
Os montes
De tristezas,
Paixões,
Solidões,
Alegrias,
Que fizeram de minha vida
Uma montanha de fantasias.
Sigo rumo ao sol,
Fonte de luz,
Luz de minha alma.
Alma de tons azuis
Escuros como a noite na estrada.
Sigo esse sol,
Que é meu eu,
Meu ego,
Minha ego trip.
Nessa “Trip” solitária,
De estrada precária
Cheia de falhas,
Dos meus atos,
Da falta de tato.
Essa malha rodoviária,
Desgastada
Como os sentimentos
De quem me amou
E só encontrou tormento.
Sigo a estrada rumo ao sol,
Em busca do fim,
Em busca de mim,
Essa estrada que é reta
Sem curvas,
De paradas curtas,
E margens obscuras.
Sigo rumo ao sol
Para me encontrar
Sem saber quando tudo
Vai acabar,
Onde vai ter fim essa reta,
Quando atingirei a meta
De alcançar o derradeiro
Fim
Da estrada do sol.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

TEOLOGIA E LITERATURA

A Literatura é uma área do conhecimento humano que se caracteriza por sua abrangência de interpretações. Essas interpretações são fruto de todo o conhecimento adquirido com o passar dos séculos. Os textos literários refletem as relações do homem com a sociedade, seus valores, costumes, com a fé e com os sentimentos. E é por isso que são infindáveis as possibilidades de interpretações e leituras, por exemplo, uma leitura filosófica de uma obra, até mesmo a teologia pode ser usada para esses fins.
Como foi dito, a produção literária é fruto da relação do homem com o que o cerca e a sua relação com Deus também está presente em vários textos clássicos. É possível traçar as várias visões sobre fé, religiosidade e a relação do homem com Deus desde o surgimento da cultura ocidental – vista através das obras literárias da Antigüidade – até os dias de hoje – através das obras de poesia contemporânea.
Em grandes obras como a Epopéia de Homero, por exemplo, a relação do homem com os deuses é direta e a interferência dos habitantes do Olimpo é decisiva para o desfecho do conflito entre gregos e troianos. Aqui nesse momento, para os homens, os deuses não só interferem no nosso cotidiano, como em alguns casos vive entre nós, essa visão é muito comum nos povos antigos e posteriormente nos povos bárbaros, principalmente os nórdicos.
Com o advento do cristianismo e a produção literária tendo maior visibilidade devido ao início da produção em massa dos livros, novas idéias se propagam, o homem não mais acredita que os deuses andam entre nós, agora há um único Deus onipresente e o homem se coloca numa condição de submissão diante desse Deus. Na obra do poeta barroco Gregório de Mattos esse sentimento de submissão (não no sentido pejorativo, mas de alguém extremamente devoto) é bem visível através de seus poemas sacros. Uma outra obra que exprime a doutrina cristã como algo natural na sociedade é o livro A Divina Comédia de Dante Alighieri escrito no início do século XIV e que trata da redenção da alma e sua ida ao paraíso após expurgar os pecados no inferno e purgatório.
Alguns séculos mais à frente, com o avanço do Iluminismo e outras linhas de pensamento que pregam a apreciação da ciência – como no fim do século XIX que se vê tomado por pensamentos como o Positivismo, o Darwinismo e outras filosofias científicas – alguns autores passam a não se voltar mais para Deus e a fazer duras críticas à igreja católica (instituição) como é o caso do romance O Crime do Padre Amaro de Eça de Queirós, que faz reprimendas ao clero português.
No decorrer do século XX a humanidade viu a ciência responder a alguns questionamentos, mas não a todos, então o homem se voltou mais para Deus e passou a encarar a fé não como algo que traz medos e padecimentos como na Idade Média, mas algo que dá conforto num mundo conturbado com conflitos e incertezas. Esse sentimento pode ser visto na obra do poeta brasileiro Murilo Mendes que era católico praticante e sempre procurou transmitir a sua fé através de seus poemas.
Esse tema é muito extenso e mais claro ficaria com a exemplificação dos poemas, mas o principal é perceber que, na literatura, qualquer interpretação é valida e que mesmo não sendo uma obra religiosa pode se apreender algo nesse sentido porque a fé e a religião fazem parte do homem e tudo que faz parte da natureza humana não fica de fora das obras literárias. E já que não é possível exemplificar nesse espaço, vale a dica de procurar os autores que estão citados no texto e fazer, cada um, sua própria leitura e tentar identificar não só a teologia, mas também outras fontes de interpretação que é o que há de mais prazeroso no ato de ler.