terça-feira, 24 de julho de 2007

FESTA JUNINA

Bandeirinha e balão,
Andorinha no salão.
Barraquinha de churrasco,
Pescaria e quentão.
Pula a fogueira iá-iá,
Pula a fogueira iô-iô,
Vamos pra roda dançar,
Comer maçã do amor.
Luar de Santo Antônio,
São Pedro e São João,
Luar de junho,
Luar do sertão.
A zabumba e o fole,
O baião e o xote.
Pega ela gavião
E aquece o meu coração,
De saudade e alegria
Da meninice vadia.
Olha a chuva, olha a cobra,
É mentira, voltou,
É casamento na roça,Num tempo que passou.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

INCLUSÃO DIGITAL

Muito tem se falado em “inclusão digital”, que é preciso levar a informática às camadas menos favorecidas, fazer com que os jovens das comunidades pobres tenham acesso a Internet igual ao da classe média, inclusive com o lançamento, por parte do governo, de um programa (mais um) de computadores populares. Mas será que essa é a solução para adequar esses desfavorecidos sociais a realidade de hoje?
Bem, para começar, realmente tem que dar oportunidade às pessoas das periferias para que possam aprender a usar esses aparelhos tecnológicos, até para entrar no mercado de trabalho, só que ninguém se lembra que para usar um computador é preciso ler o manual do aparelho, ler o que está na tela para saber o que fazer, ler os manuais dos programas que a maquina vai utilizar, produzir textos (como se fazia com as máquinas de escrever), enfim, é preciso, antes de tudo saber ler e escrever.
Como pode então o governo apregoar aos quatro ventos que é preciso fazer essa tão falada inclusão digital quando ele ainda não fez nem uma “inclusão literária”? E inclusão literária dita aqui não é o domínio das escolas literárias ou se tornar um especialista em literatura, é algo mais essencial, é simplesmente saber ler e entender o que foi lido, é saber usar a língua informal de sua comunidade, mas também a língua padrão para que possa se adequar aos padrões sociais de comunicação, é deixar de ser um analfabeto funcional.
No Brasil 60% dos jovens entre 15 e 24 anos nunca leram um livro na vida. A maioria da população com ensino médio completo é considerada analfabeto funcional, ou seja, essas pessoas conseguem decodificar as letras, formar palavras e ler o que está escrito, mas não conseguem entender nada do leu, além disso, elas não são capazes de produzir uma simples redação por total falta de conhecimento de vocabulário e regras gramaticais. Com um quadro como esse, como pode o governo falar em colocar um computador em cada residência, quando ainda não colocou um leitor competente em cada uma?
Novamente, é importante fazer sim uma inclusão digital, para que possamos, inclusive, competir em pé de igualdade com os países desenvolvidos, mas é importante fazer campanhas fortes de incentivo a leitura, melhorar os currículos escolares, facilitar o acesso aos livros,seja em bibliotecas públicas ou favorecendo a compra em livrarias, enfim, fazer com que esse jovem e até mesmo esse adulto se torne um usuário competente da língua, faça com que ele seja um leitor capaz de apreender o que foi lido, aí sim, quando esse quadro se reverter poderá se falar numa real inclusão digital, já que a social já terá sido feita e essas pessoas, que hoje tem dificuldade em manusear o controle remoto da televisão, poderão se tornar passageiros de primeira classe nesse universo virtual que é a Internet e o mundo da informática.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

ENCONTRO CASUAL


Era um fim de tarde quente no Rio de Janeiro e eu estava num quiosque do Arpoador bebendo uma cerveja gelada e curtindo o pôr-do-sol. Já era um costume meu nos dias quentes deixar o carro em casa e ir andando até o trabalho, morava em frente a Praça General Osório e trabalhava na Nossa Senhora de Copacabana e principalmente no verão fazia este trajeto para poder contemplar o início da manhã no mar de Ipanema, o céu azul e dourado no Arpoador, via os pescadores já iniciando seus trabalhos lá no Forte de Copacabana e na volta sempre parava para ver o pôr-do-sol. Portanto era só mais um dia normal.
Estava tudo tranqüilo até que algo me chamou atenção, aparentemente nada importante, mas mesmo assim pouco comum. No meio da areia apareceu, como se tivesse simplesmente se materializado no ar uma moça de mais ou menos vinte anos, muito bonita e que parecia perdida ou procurando alguém. O estranho é que parecia que só eu a via, ninguém reparava nela ou lhe oferecia ajuda. Ela ficava ali parada na minha frente olhando para os lados, com um olhar perdido, imóvel. Eu então comecei a observá-la. E realmente era uma menina linda, cabelo castanho até os ombros, tinha os seios medianos e o quadril largo, estava usando um desses vestidos de verão de tecido sintético que destaca bem a silhueta do corpo, porém que não revela nada além disso. Tinha alguma sensualidade, mas não muita, no geral era uma típica garota carioca igual a tantas outras por aí. Entretanto essa me chamava a atenção não sabia o que era, parecia que estava hipnotizado por ela e fiquei ali da minha mesa observando-a e tentando ser o mais discreto possível.
De repente ela começou a olhar na minha direção, num primeiro momento achei que não fosse comigo, olhei inclusive para trás, poderia ser a pessoa que ela esperava, mas não havia ninguém atrás de mim. Comecei a disfarçar, ela poderia estar se sentindo invadida com a maneira como a observava então virei para outro lado e fiquei contemplando a paisagem local. Mas não demorou muito para que me virasse novamente para ela e fiquei surpreso ao ver que ainda me olhava e mais, com muito mais indiscrição que eu a ela. Fiquei até certo ponto constrangido e tentei disfarçar essa situação, mas não consegui, era evidente meu acanhamento.
A moça começou a se vir na minha direção e parou em pé na frente da minha mesa. Eu me levantei e a convidei para sentar, ela não disse nada e nem fez qualquer menção de aceitar o convite. Perguntei seu nome, não me respondeu, apenas se virou para a pedra e fez sinal para que a seguisse. Eu fiquei ali parado feito um idiota sem querer acreditar que uma mulher bonita poderia simplesmente se aproximar e me levar lá para cima, acho que nem nos filmes pornôs mais absurdos isso poderia acontecer. Ela se virou mais uma vez e novamente fez sinal para que a seguisse, então paguei a cerveja que nem havia terminado e fui atrás dela. No caminho fui pensando quem seria essa garota que simplesmente acenou para um desconhecido de maneira fria e indiferente e ia saindo do meio da multidão para um canto mais reservado da praia.
Fui subindo a trilha pedra acima com alguma dificuldade graças a falta de exercícios e por não ser mais um garotão de dezoito anos, ela, entretanto subia numa rapidez e agilidade que às vezes parecia que não tocava o chão. Quando cheguei lá em cima já estava escuro, mal conseguia enxergar. Foi quando senti uma mão fria em meu ombro me virando, olhei assustado e era ela na minha frente. Da mesma forma que na areia ela continuava com o olhar perdido, não esboçava qualquer sorriso, não tinha nenhuma expressão.
Eu perguntei seu nome mais uma vez, ela novamente não respondeu, simplesmente segurou firme minha cabeça e me beijou, um beijo que nunca tinham me dado antes, um beijo ardente, com uma paixão desesperada como se tudo fosse desaparecer a qualquer momento. Era o beijo de alguém que estava com os minutos contados e que só tinha esse momento para beijar a pessoa amada e se entregava de corpo e alma. Quando me largou estava completamente sem ar. Já que não me dizia qual seu nome, perguntei de onde era, ela continuava muda olhando para mim como se estivesse contemplando meu rosto. Novamente ela me beijou e desta vez fiquei entregue a sua luxúria. Foi aí que percebi o seu perfume que parecia o cheiro do mar e pude sentir como seus lábios eram salgados. Quando ela parou de novo de me beijar disse que parecia uma sereia, com cheiro e gosto de mar, foi único momento que sorriu, mas foi um sorriso triste e logo voltou sua expressão anterior.
Depois disso eu perdi totalmente o controle da situação, ela começou a beijar meu pescoço, foi abrindo minha camisa, eu tirei seu vestido e comecei a beijar seu corpo, era um corpo frio, porém delicioso, no calor daquela noite, ele até me refrescava. Ela foi descendo, abriu a minha calça e daí perdi os sentidos, ou acho que perdi, só sei que era um turbilhão de sensações, o cheiro do seu corpo se misturando ao meu, o gosto do seu sexo em minha boca, a sua mão fria no meu sexo... Foi maravilhoso e estranho ao mesmo tempo, algo que nunca havia sentido, foi uma mistura de paixão e desespero.
Quando terminou tentei mais uma vez saber seu nome e seu telefone, ela simplesmente se vestiu, virou-se e foi embora pela mesma trilha que subimos. Fui correndo para ver se a alcançava, entretanto quando virei a curva que nos separava, ela havia desaparecido. Sumiu da mesma forma que surgiu, como se tivesse sumido no ar. Fui descendo a trilha meio desolado, apesar da transa maravilhosa, sabia que nunca mais saberia quem era aquela moça, foi quando me dei conta do horário; já passava das onze da noite, eu tinha que ir para casa descansar para trabalhar no dia seguinte.
Durante uma semana eu parei no mesmo quiosque em que vi aquela menina na esperança de encontrá-la novamente, achava que ela tinha gostado tanto quanto eu da nossa aventura e que apareceria lá de novo, mas não apareceu. Eu ficava lá até nove, dez horas da noite esperando até que não restasse mais ninguém na praia então ia embora.
Já tinha desistido de encontrá-la e me conformado de guardar essa história para mim quando numa manhã algo surpreendente aconteceu: estava tomando meu café da manhã em casa, lendo meu jornal, quando uma matéria pequena e sem muita importância me chamou a atenção. Haviam encontrado nas areias da praia do Arpoador o corpo de uma jovem de vinte anos que tinha ficado presa na rede de alguns pescadores, ela estava já bem deteriorada por ter ficado tanto tempo no mar, porém os peritos da policia conseguiram identificá-la pela arcada dentária e descobriram que era uma jovem que havia desaparecido a pelo menos uns três meses e que segundo os laudos tinha cometido suicídio. A família não descartava essa hipótese já que a moça apresentava um histórico médico de depressão e na noite anterior ao seu desaparecimento ela havia terminado seu noivado de três anos e ela sempre dizia que quando morresse queria que seu corpo fosse jogado no mar da praia do Arpoador que era seu canto favorito no Rio. Segundo o jornal esse episódio aconteceu um dia antes do meu encontro com a moça misteriosa.
Eu li essa matéria mais por curiosidade, sempre me chamou a atenção jovens que tiravam a própria vida, sempre tive pena dessas crianças desesperadas que não tem forças para enfrentar as frustrações da vida que ainda está no começo, porém meu susto foi imenso ao ver a foto do corpo resgatado; era o mesmo vestido que a mulher misteriosa, num reflexo automático olhei a foto com o rosto dela ao lado; quase caí da cadeira. Era a mesma moça da pedra. A mesma que me beijou apaixonada e desesperadamente. Eu não podia acreditar e não conseguia entender. Eu era engenheiro, um homem cético que nunca foi religioso ou que tivesse qualquer pensamento ou crença sobrenatural, aquilo não podia ser possível... Bem, tudo aconteceu há uns seis meses e hoje sei quem é aquela garota, apesar de não poder encontrá-la mais. Ainda não consigo entender, nem acreditar, estou apenas contando esta história para que alguém possa me dar qualquer explicação sobre esse assunto. Nunca acreditei em fantasmas ou fenômenos sobrenaturais, mas por via das dúvidas nunca mais olhei para moças misteriosas, nem parei mais para tomar cerveja na praia vendo o pôr-do-sol, até por que, nunca se sabe o que pode acontecer ou quem você pode encontrar.